Produzi essa matéria para o Sindicato dos Metroviários do Rio de Janeiro-SIMERJ e estou compartilhando com vocês.
Garantia de acesso a todos?
O RIO DE JANEIRO ESTÁ PREPARADO PARA AS PARALIMPIADAS?
Faltam cerca de 300 dias para os Jogos
Paralímpicos de 2016 e o Rio de Janeiro ainda tem um desafio gigantesco a
vencer em acessibilidade. As estações do MetrôRio carecem de um número maior de
funcionários para ajudarem no acesso de deficientes e a maioria das
estações não possuem condições adequadas aos cadeirantes. Na hora de entrar no
trem, o cadeirante tem inúmeras dificuldades, porque o novo trem tem uma altura
diferente da do trem antigo, o que influencia na plataforma e dificulta a
entrada da cadeira de rodas. Outro problema são os elevadores, cujos botões de controle estão fora da altura das mãos dos cadeirantes.
Tifany Fiks é uma cidadã que
trabalha durante a semana no centro da cidade e luta por um transporte com verdadeira acessibilidade. De segunda a sexta ela utiliza o Metrô da
Saens Pena, na Tijuca até à Cinelândia. Acompanhamos essa viagem simples para a
maioria das pessoas sem deficiência, mas, extremamente dura e desgastante para
cadeirantes, assim como Tifany. O primeiro problema é utilizar o elevador da
entrada da estação até o local de embarque. Tifany precisa esperar pela ajuda
de um segurança para acionar o elevador e isso pode demorar vários minutos; ou
ela tem que pedir a um usuário qualquer pra chamar um segurança. “Trabalho
fora com horário pra chegar e tenho que esperar um bom tempo até que alguém
apareça para me ajudar no acesso”, disse.
O elevador da estação do Metrô na Cinelândia não possui câmera, assim como todos os demais elevadores comuns, pondo em risco a segurança do cadeirante.
Tifany explica que os elevadores em
relação à posição dos botões e aos modos de operação tem a altura da
localização inadequada. “Eles deveriam ficar próximos às mãos do cadeirante. Na
Estação Uruguai, a alavanca do elevador fica na altura da cabeça do cadeirante, ou seja, a altura adequada pra quem está em pé manusear, bem como nos demais elevadores você tem que ficar pressionando o botão com força até chegar em cima ou embaixo. Na
plataforma da Estação da Saens Pena, os botões ficam atrás do equipamento e o cadeirante para manusear
tem que ficar se esticando todo. Na saida da estação ficam muito próximos aos degraus Os elevadores normais não têm nenhuma câmera
de segurança. Se o cadeirante morrer, for assaltado ou passar mal ele vai ficar
lá até alguém aparecer. Aí as pessoas te perguntam: Cadê seu acompanhante? Eu
moro sozinha. Faço a minha vida. Essa ideia de cadeirante coitadinho já deu. Já que a acessibilidade não é adequada, foi sugerido que se contratassem pessoas para manusear os elevadores para acesso dos cadeirantes. Uma das gerentes alegou que falta orçamento para contratar mais efetivo e disse que não poderia disponiblizar uma pessoa só pra isso porque segundo ela, o cadeirante é esporádico. Certa vez, fizemos uma manifestação aqui na plataforma da Estação da Saens Pena solicitando que o trem voltasse a fazer serviço pelo trilho do meio, uma vez, que, do canto esquerdo de quem chega na estação, não há elevadores", disse Tifany acrescentando que " ou nos dirigiamos para estação Uruguai ou temos que usar um equipamento chamado super track, (espécie de veiculo anfíbio) onde posicionamos a nossa cadeira em cima e ele inclina para subir as escadas. É um equipamento totalmente desconfortável que incomoda e vai batendo a nossa cabeça na medida em que sobe”, disse Tifany.
Botões de controle do elevador são inadequados à altura do cadeirante e precisam ser pressionados com força.
“Metrô novo e trem novo, só tem um lugar demarcado para cadeirante no primeiro vagão e no último vagão próximo à terceira porta, Todavia, a demarcação na plataforma é na primeira porta, tal qual o local demarcado para cadeirante no trem antigo.Como o cadeirante saberá qual trem está vindo? Ou quando ele estiver vendo o trem se aproximar deverá correr para se posicioinar na porta correta? Custa ao Metrô
adesivar o chão? As pessoas não ajudam no acesso. Isso é uma questão de
educação e cidadania, mas poucas pessoas se importam com isso.Todos envelhecerão e precisarão um dia”, disse Tifany .
Betânia Alves é paraplégica e utiliza o
Metrô durante três dias na semana. Ela mora emTriagem.” A maior
dificuldade é que os trens novos são altos e o lugar do cadeirante sempre está
ocupado. Os elevadores das estações às vezes travam e a gente tem que pedir a
alguém pra ajudar”.
Betânia (a direita) é paraplégica, mora em Triagem e utiliza o Metrô três vezes na semana e sofre pra entrar no trem.
Dona Alda Maria, além de cadeirante, é
idosa e disse que só sai com acompanhante. “Não posso contar com a ajuda de
ninguém do Metrô. Ninguém ajuda. O Rio de Janeiro não está preparado pra nada.
Eles querem ganhar dinheiro nas nossas costas. Os jogos olímpicos vão dar muito
dinheiro, não pra nós, mas para eles”, disse indignada.
Dona Alda disse que ninguém ajuda e ela é obrigada a sempre sair acompanhada.
ACESSIBILIDADE SIGNIFICA IR E VIR COM TOTAL INDEPENDÊNCIA E ISSO NÃO OCORRE. CHEGA DE ACESSIBILIDADE DE FACHADA.
Luta antiga
A cidade-sede das Olimpíadas e
Paralimpíadas tem quase 400 mil deficientes, cerca de 6% de sua população, e
inúmeros problemas também para assegurar o direito à mobilidade a essas
pessoas.
Segundo o Presidente da Associação
Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef) , Guilherme Ramalho, há uma
carência de profissionais treinados especialmente para lidar com as diferentes
situações e deficiências.” A questão da acessibilidade nos transportes
públicos, inclusive no Metrô, faz parte da luta de entidades como a Andef, há
muitos anos. O prazo para adequação do decreto 5296/2004 que dá
prioridade de atendimento e estabelece normas gerais e critérios básicos
para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida já chegou ao fim e, infelizmente, ainda não temos a frota
de ônibus, metrô, trens e barcas totalmente adaptadas. Sabemos que esforços das
empresas que prestam os serviços têm sido feitos, mas queremos que um dos
legados dos Jogos Paralímpicos seja o direito de ir e vir que qualquer cidadão
tem direito. A maior dificuldade que um cadeirante tem ao pegar o metrô é que
nem todas as estações são acessíveis”